Catleya labiata a "Rainha do Nordeste" |
Autor: Italo Gurgel (Jornalista e Professor)
A mais recente lista oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção, emitida pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA), enumera 472 espécies, dentre as quais 34 da família das Orquidáceas. Uma delas é a Cattleya labiata, por muitos considerada a mais bela orquídea brasileira e que ocorre apenas no Nordeste (Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe).
São vários os motivos do progressivo desaparecimento das orquídeas do seu ambiente natural, todos eles relacionados às atividades humanas: expansão das fronteiras agrícolas, queimadas, avanço da especulação imobiliária e da exploração de minérios, além da coleta predatória.
O Brasil possui riquíssimo patrimônio representado por 190 gêneros e 2.300 espécies de orquídeas. Esses números tenderiam a crescer, uma vez que novas espécies, vez ou outra, são descobertas. Entretanto, a ameaça é de que ocorra um decréscimo, em razão daquelas agressões ao meio ambiente, aí incluindo-se o comércio criminoso de orquídeas retiradas da mata.
Considera-se possível que muitas orquídeas venham a desaparecer para sempre, antes mesmo de serem catalogadas.
No passado, quando a consciência ambiental ainda não se havia disseminado na sociedade, era comum, no Ceará, os colecionadores escalarem as serras, periodicamente, para coletar orquídeas em grande quantidade.
Mas quem, de fato, promovia verdadeiros assaltos aos habitats de nossas orquidáceas eram os chamados “mateiros”, que costumavam despachar milhares de plantas para o Sul e o Centro-Sul do país, empobrecendo assim, de uma forma irreversível, nosso patrimônio florístico. Hoje, a Cattleya labiata escasseia dramaticamente nos locais onde antes formava grandes populações.
Desde 2007, quando foi reativada, a Associação Cearense de Orquidófilos-ACEO vem divulgando, junto aos associados, a ideia de se combater o comércio ilegal de orquídeas. Para desestimular a compra de “orquídeas do mato”, organizam-se aquisições coletivas em orquidários comerciais, que comercializam apenas plantas reproduzidas (legalmente) em laboratório.
Ao mesmo tempo, expõe-se um argumento de peso: as orquídeas subtraídas da mata são, em geral, portadoras de fungos, bactérias e outros microrganismos que podem contaminar todo o orquidário, obrigando ao uso sistemático de dispendiosos defensivos químicos – tão prejudiciais ao bolso quanto à saúde humana.
Além do mais, a qualidade dessas flores é sofrível, em contraste com as do comércio legal, que, além de sadias, apresentam ótima estética, como resultado de longo e cuidadoso trabalho de melhoramento genético.
Assim, adquirir “orquídea do mato” não é somente crime ambiental, atitude deplorável em um mundo que se preocupa cada vez mais com a preservação da natureza. É, também, um péssimo negócio.
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